31.5.08

VI- (Re)leituras: " A World Restored " de Henry Kissinger, por André Bandeira

Esta é a Tese de Doutoramento, de 1964, daquele que foi o Ministros dos Negócios Estrangeiros de Nixon e lhe sobreviveu até hoje. Com mais de oitenta anos, Kissinger, filmou um spot publicitário a seguir ao ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque em que corria e se atirava para o chão, naquilo que se chama "home run", do baseball, isto em homenagem à resistência da América ao Terrorismo. Mais recentemente, Kissinger, com George Schultz, William Perry e outros ex-Ministros dos Negócios Estrangeiros de ambos os grandes partidos norte-americanos, veio defender a abolição completa das armas nucleares. Sinais dos novos tempos que aí estão...
Que diz a Tese de Kissinger? A tese de Kissinger pode resumir-se em várias frases, como quem faz um holograma, onde, de todos os pontos de vista se vê sempre o conjunto todo. A mais famosa é a de que a legitimidade é precisamente aquilo de que não se fala e que funciona na mesma. Legitimidade não é justiça. Já o Direito diz que há a sucessão legítima e a sucessão legitimária, quando não se respeita a legitimidade, porque se esta não é respeitada, então faz-se respeitar, achemo-la ou não justa. E tem força de Lei mas tem muita mais força que isso.
Contudo, o que Kissinger exprime verdadeiramente neste livro é a diferença entre o revolucionário e o "legitimista", ou seja: o revolucionário exalta-se, o conservador qualifica-se. Mas, ao contrário do que se pensa, o revolucionário impõe-se, primeiro a si mesmo e, depois, aos outros, enquanto o conservador se legitima. Ora, se a legitimidade não é justiça, o que o livro quer dizer é que a justiça acaba sempre por perder.
O livro trata de Castlereagh, o lorde inglês que reprimiu a Irlanda pró-napoleónica e que foi um aliado menor de Metternich, o Príncepe austríaco que enterrou Napoleão mas também enterrou o Antigo Regime. Engraçado, não é? O homem conservador e da legitimidade acabou por aplicar Napoleão aos bocadinhos e a Europa acabou por ficar toda constitucional, o que quer dizer que se legitimou de outro modo e continuou injusta. O conservador não mudou algumas coisas para que tudo ficasse na mesma, mas manteve quase tudo para que de facto algo mudasse. Mas a Justiça não é mudança, é retorno, o que quer dizer "Revolução". Ou seja: o contrário de "mudança".
Kissinger declarou, não há muito tempo, na Alemanha que quem mais admirava era Bismarck, o unificador da Alemanha, aquele que dizia à sua mulher sentir-se como um anjo caído, com a beleza dos antigos anjos, mas sempre insatisfeito neste mundo, sem nunca encontrar paz. Kissinger é de origem austríaca. Ele e Bismarck esqueceram-se de dizer outra coisa sobre os anjos caídos: é que a Nostalgia é o nome da maior das suas dores. Quem tem nostalgia nunca perderá, ao contrário da Justiça que sempre se arrisca a perder, mas também nunca ganhará, como a Esperança, que só morre depois de morrermos. A nostalgia tira-nos da frente de batalha e as palavras estão todas trocadas. Há quem tenha prazer a pô-las todas no seu devido lugar, porque as palavras são apenas o início de uma conversa. Mas quem tem apenas prazer, é um patusco e as brincadeiras de uns fazem a dor de muitos.
Enfim: porque é que Castlereagh, um dos raríssimos britânicos que foi europeu, se suicidou? Porque quis repôr, em nome da Justiça, algo que não tinha que mudar mas que tinha apenas de se equilibrar e perdurar. Napoleão era sem dúvida um grande sedutor e Metternich fez-lhe o serviço. Kissinger faz-nos o serviço de dizer que só depois de Castlereagh se ter suicidado se revelou a sua enorme solidão, ao longo de toda a vida.
Pois é. Porque quem retorna em nome da Justiça não tem companhia. O abismo da solidão é o sêlo negro da Esperança, que é o contrário da Nostalgia. E assim caímos, como Homens e não como Anjos: caímos para cima.

9.5.08

Lançamento


Uma causa saborosa... acho eu...!

Não tenhais medo, por Pedro Cem

Lembro-me às vezes desta frase de João Paulo II. Está explicada por enquadramento, quando o Papa visitou a Polónia, ainda a do Pacto de Varsóvia e a gente, sempre católica, vinha falar com ele (até os dirigentes) exprimindo aquilo que desejavam mas não conseguiam fazer. Penso que foi, nesta altura, sobretudo quando ele se despediu dos dirigentes que sabiam ter um arma apontada à cabeça, que a frase lhe surgiu. Muitos a tinham dito, em diversas situações, aos berros numa batalha, numa barricada, a caminhar para o cadafalso, ao deitarem-se numa mesa de operações, ao compôrem o casaco antes de um encontro, ao alinharem em frente ao pelotão de execução, ao atrvessar um ermo escuro todos os dias, depois de um duro dia de trabalho. Não tenhais medo, repete-se dentro da minha cabeça.Não pergunto porquê. Como o meu amigo Mário Teixeira, frade fradinho, sindicalista e eremita e agente de viagens me dizia: tem confiança. Confiança em quê, perguntava eu e le dizia-me: só confiança. Mais nada.
E agora lembro-me a propósito de nada, outra coisa que me anda a bater na cabeça, o rumor de Roma, algures no séc. I D. C. quando toda a gente comentava que a bela Dama patrícia Lavínia tinha fugido com um pobre desafortunado gladiador, que lhe devia dar pelo ombro, o "Sergulo", e que se pode traduzir mais ou menos por "Serginho". E diz a lenda que nunca mais foram encontrados e que viveram felizes o resto da sua vida. Dizia ainda o rumor de Roma" Como era possível? O pobre Sergulo que tinha o corpo tão coberto de cicatrizes que parecia deformado e nem metade do nariz tinha, que lho tinham cortado num combate".

3.5.08

E não havia ninguém


Primeiro perseguiram os comunistas e eu nada disse - porque eu não era comunista.
Depois, perseguiram os socialistas e eu nada disse - porque não era socialista.
A seguir, perseguiram os sindicalistas e eu nada disse - porque não era sindicalista.
Depois perseguiram os judeus e eu nada disse - porque não era judeu.
Por fim perseguiram-me - e não havia ninguém para falar por mim. Martin Niemöller